segunda-feira, 14 de março de 2011

Entrevista com Vanderlei Victorino (BA)

Seguindo a série de entrevistas, nosso entrevistado da semana é o presidente do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) de Jundiaí, Vanderlei Victorino.
Militante do movimento negro, ex-militante do movimento estudantil e do PT, Vanderlei Victorino, o popular BA, nos externa sobre sua visão da política local e da conjuntura nacional .
                   BA discursando no ato de lançamento do Movimento Jundiaí Livre


Japi pelo prisma da esquerda: Conte sobre a sua biografia, profissão e atuação polítca.
Vanderlei Victorino: Nasci na cidade de Campo Limpo Paulista, e moro em Jundiaí SP há 39 anos, no Jardim do Lago.
Tenho 39 anos, sou solteiro, e iniciei a minha militância quando ainda fazia o curso da primeira eucaristia aos 10 anos. Sou católico apostólico romano, e ex-secretário geral do Emaús  (Movimento Nacional de Evangelização da Juventude), comecei no Emaús  em 1991 - data de organização do movimento na diocese de Jundiaí -, onde continua sua trajetória de evangelização da juventude.
Fui dirigente do movimento estudantil, por onde trabalhei para o retorno do direito de construção dos grêmios estudantis livres, proibido durante a ditadura militar. Ajudei na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, e na reconstrução da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), enquanto dirigente do movimento estudantil.
Fui um dos articuladores do impechiment do ex-presidente Collor, e organizei, em conjunto com vários outros estudantes, trabalhadores e artistas - as manifestações da campanha “Fora Collor” no Brasil inteiro, inclusive em Jundiaí.
Fui um dos dirigentes estudantis que, no inicio da década de 90, conseguiram aprovar a Lei do "Passe Livre" para os estudantes,  em diversas cidades do país, conseguimos este feito em Jundiaí também.
Iniciei a minha militância no movimento negro, também neste mesmo período, com 10 anos de idade. Participei da campanha do ex-presidente Lula  para governador do estado de São Paulo em 1982, neste momento conheci algumas lideranças do movimento negro, que me convidaram para participar de reuniões.
As militâncias: política social e partidária, sempre estiveram atreladas intrinsicamente comigo, pois a construção de um mundo socialmente justo, radicalmente livre, solidário, fraterno, socialista e democraticamente igualitário, depende da força de todas as frentes, movimentos: social, sindical, popular, partidário e institucional.
Iniciei minha militância no Partido dos Trabalhos (PT) em 1985, mas me filiei em 1992. Atuei como dirigente partidário municipal, estadual e nacional, até a data da minha desfiliação em 2005. Hoje sou filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), atuando como membro do diretório estadual, presidente do PSOL em Judiaí e coordenador regional do PSOL.
Nos dias atuais, tenho foco na atuação firme nas políticas públicas para a erradicação do racismo, xenofobia, machismo, sexismo e todas as suas formas correlatas de intolerância.
Sou formado em secretariado, dança clássica, contemporânea, danças étnicas e dança de salão. Já participei de vários shows e festivais de dança, atuando como bailarino e coreógrafo em diversos estados do Brasil.
Japi pelo prisma da esquerda: Você foi o candidato do PSOL nas últimas eleições municipais, em 2008, qual foi a leitura que você fez daquela campanha?
Vanderlei Victorino: As eleições  de 2008 foram a prova de que o poder econômico e os preconceitos: social, espacial e racial, ainda estão enraizados em boa parte da população jundiaiense.
Eu, minha familia e todos aqueles que estiverem dioturnamente comigo na campanha, sofremos discriminação, perseguição e preconceito durante a campanha.
Mas acredito que, da noite para o dia, conseguimos extremecer os alicerces da sociedade jundiaiense, pois a minha candidatura ousou questionar tudo aquilo que parecia estar a salvo de quaisquer tipo de questionamento. Ousamos com a minha candidatura, mostrar e provar que o negro, que o pobre, que o jovem, que todo aquele que  utiliza (como eu utilizo) o transporte, educação e saúde pública, tem condições: moral, ética e politica, igual ou maior até do que os ditos “senhores do poder” de governar a cidade.
A minha candidatura representou o rompimento de tudo aquilo que parecia já estar pré estabelicido para as campanhas dos candidatos majoritários.
Portanto, a leitura que faço das eleições de 2008 é de que uma nova forma e ordem de se fazer política foi estabelecida na cidade. Ficou provado que a mesmice das eleições é coisa do passado, mesmo a minha vitória eleitorial não ter sido manifestada nas urnas, um novo partido contra a velha politica foi o diferencial para estremecer os alicerces de Jundiaí.
Vencemos as eleições, pois vencer as eleições não significa reverter esse vencimento em votos nas urnas. Sabemos que essa luta não é facil, mas sabemos também que ela não acabou, que muito ha de ser feito para a construção desse mundo que tanto lutamos e sonhamos.
Os poderesos pensam que venceram, mas eu digo que apenas uma batalha foi vencida por eles e que tantas outras batalhas virão, e nós ainda vamos pular essa cerca e acabar de uma vez por todas com os apartheids: social, espacial e racial, que cada vez mais vêm crescendo em nossa cidade .
Japi pelo prisma da esqueda: Quais são as expectativas do PSOL para 2012?
Vanderlei Victorino: O PSOL entende que eleições não são o fim, mas sim o meio para a tranformação que tanto lutamos e sonhamos, e que portanto, para nós as eleições de 2012 passam necessariamente por lutas prioritárias como  o combate à especulação imobiliária e suas consequências, a mobilidade urbana e a defesa do meio-ambiente. A luta contra a intolerância religiosa, em particular contra as religiões afro-brasileiras, pois a elite e alguns poucos lideres de religiões pentecostais estão tentando um ataque frontal. Quanto à cultura, queremos garantir a diversidade cultural e valorizar a cultura brasileira. Democratizar o acesso aos bens e equipamentos culturais. Resgatar, retomar e oficializar com grandes incentivos financeiros e estrutal, o projeto Pão & Poesia, pois trata-se de uma manifestação artística e cultural do povo jundiaiense. Eu entendo que 2012 será a consequência das lutas que travarmos em 2011.
Japi pelo prisma da esquerda: Nas últimas eleições presidenciais em 2010, o PSOL ficou dividio -  onde o quadro mais importante do partido, a ex-senadora Heloisa Helena, declarou voto a candidata do PV, Marina Silva. Já no segundo turno, parte do partido declarou voto crítico na candidata do PT, Dilma Roussef, e outra parte declarou voto nulo. Qual é a sua leitura desta situação?
Vanderlei Victorino: As eleicões 2010 inauguraram nova fase da disputa política no país, lançando gigantescos desafios para a construção do PSOL e a luta pelo socialismo no Brasil.
No processo eleitoral de 2010, ampliou-se a audiência de uma direita cada vez mais truculenta, que se alimenta de preconceitos e falsos moralismos, capitaneada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Democratas (DEM), com força em governos estaduais importantes, que reúnem mais da metade do eleitorado nacional. Sendo assim, a direita - enquanto força política -, programática e ideológica, está a um só tempo no governo e na oposição, movimentando-se por conveniência. No essencial, se unifica e constitui um campo político de não mudança, mostrando no atacado alto grau de concordâncias e divergindo no varejo.
As eleições foram disputadas num cenário de consolidação da hegemonia política burguesa em nosso país, para a qual o governo Lula, o PT, e importantes organizações populares concorreram ativamente ao legitimarem políticas econômicas burguesas, discursos políticos e práticas conservadoras, e as ações coercitivas do estado de caráter antipopular. Por outro lado, as eleições também ocorreram num cenário de muitas dificuldades para os movimentos sociais e a esquerda.
Japi pelo prisma da esquerda:  Qual é a importância do Movimento Jundiaí Livre para a esquerda de Jundiaí?
Vanderlei Victorino: Nós do PSOL, entendemos que o Movimento Livre tende a crescer no sentido de apontar rumos para a população.
Esperamos, com muita tranquilidade, que 2011, de fato, represente esse apontamento, fazendo com que a população tenha um outro olhar a respeito da sua própria cidade e inicie um debate, e questione tudo aquilo que parece estar a salvo de qualquer tipo de questionamento, e sendo assiim, o Movimento Jundiaí Livre tem o papel fundamental para a conscientização da população.
Devemos deixar as nossas vaidades coletivas partidarias e individuais de lado e nos ater em nosso objetivo que é apontar soluções para os inúmeros problemas  que a cidade vem passando.
Sei que não é facil, mas a busca por uma cidade livre, justa, igualitária e radicalmente democratica, deve ser o rumo para o Movimento Jundiaí Livre. Sem medo de ser feliz.
Japi pelo prisma da esquerda: Quais são as principais falhas da atual administração de Jundiaí?
Vanderlei Victorino: As últimas administrações sempre tiveram a mesma falha, e nesta não é diferente, até porque é o mesmo grupo que está no governo há mais de 20 anos, por olhar a cidade superficialmente, onde não existem diferenças e problemas sociais;  isto é insultar a inteligência da população, portanto, de fato, como o atual prefeito manifestou em uma certa ocasião, nós vivemos duas Jundiaís, onde na Jundiaí governada para eles, não existem problemas a serem resolvidos, e outra Jundiaí onde a Saúde está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o tranporte coletivo está entrando em estado de calamidade,  tendo uma das tarifas mais caras do país, uma jundiaí onde a população morre por desabamento de encostas, por conta das fortes chuvas, onde as drogas estão cada vez mais matando a nossa juventude e nada é dito, nem pelo governo e muito menos pelos meios de comunicação de nossa cidade.
Eu costumo dizer que o atual governo é a principal falha, portanto, muito há de ser feito para construir e devolver a cidade para os seus verdadeiros donos: as pessoas que constituem o povo.
Japi pelo prisma da esquerda: Quais são os problemas mais urgentes da cidade?
Vanderlei Victorino: Apesar do crescimento da riqueza produzida na cidade, sua apropriação tem sido restrita principalmente pelo capital financeiro, grupos de cooperativas médicas bem como grupos de empresas de tranportes coletivos  e pela especulação imobiliária, que comandam a lógica da privatização, inclusive por todos os últimos governos municipais, apoiado e financiado pelo governo estadual.
Inverter prioridades é o lema e tema  do PSOL. Isso significa ter um outro olhar da cidade. Devolver a cidade para a populção deve ser prioridade, pois a cada vez mais a população não consegue usufrir dos equipamentos públicos que o municipio oferece de uma forma adequada e com qualidade, exemplo disso é a area de saúde, moradia e mobilidade urbana. Cada vez mais vemos a população indo morar nos bairros chamados de dormitórios.
Como a mobilidade urbana não funciona com qualidade, principalmente para as pessoas dos bairros mais periféricos, a população acaba indo para suas casas apenas para dormirem. Trabalham, estudam, vão aos médicos e fazem as suas compras nos supermercados na região central da cidade e acabam saindo de suas casas muito cedo e só retornam para dormir.
Enquanto isso, a especulação imobiliaria ocupa as melhores regiões  para expandirem os seus negócios, provocando assim trantornos ambientais e de mobilidade urbana para quem necessita do transporte coletivo para a sua locamoção.
Ter um outro olhar para a cidade e seu povo é olhar para os excluídos dos últimos anos dos processos decisórios da cidade em detrimento dos interesses econômicos e financeiros que sempre se apropriam dos frutos desse crescimento.
É preciso coragem para abrir os braços, mostrar o sorriso e experimentar a alegria de um mundo livre e solidário, e construir uma Jundiaí livre.

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