segunda-feira, 9 de maio de 2011

Foxconn em Jundiaí: breve elucidação e o desafio para avançar

A prefeitura está anunciando com pompa e circunstância, o acordo firmado com a gigante de Hon Hai (Foxconn). Sobre este assunto, posso falar com extrema tranqüilidade, pois trabalhei por quase 4 anos nesta empresa e conheço um pouco da história da instalação da primeira planta em Jundiaí.
A planta atual emprega em média quatro mil funcionários, que operam para os clientes: HP, Dell, Lenovo e Sony Ericsson, desde 2006. A implantação da planta custou cerca de R$ 40 milhões. Já teve a fama de contratar muito e demitir muito, ademais não era considerada, por aqueles que tinham experiência na área, uma empresa organizada.
O tempo passou, passaram 4 diretores pela planta e a Foxconn está evoluindo, oferecendo hoje um dos melhores salários da cidade – após muitas lutas do sindicato -, e está evoluindo em suas estratégias de qualidade, principalmente com a ferramenta 7s. É de notório conhecimento de todos que as empresas chinesas não prezam pela qualidade como as empresas estadunidenses e européias. A Foxconn tem um adendo, pois atende clientes dessas regiões e precisar fazer um tremendo esforço para ficar próxima dos níveis exigidos.
Detalhe: a Foxconn é uma empresa de Taiwan, e seu fundador e atual presidente, Terry Gou, foi o primeiro empreendedor estrangeiro a adentrar em terras chinesas, após a implementação do socialismo de mercado, do sucessor de Mao Zedong, Deng Xiaoping. Seguindo a linha cultural industrial chinesa, a Foxconn deve aumentar seus investimentos para melhorar a qualidade de seus produtos, após o XII plano qüinqüenal anunciado pelo governo chinês.
A corporação de Gou atua na área de eletrônicos como ODM (Original Design Manufacturer, ou Fabricante Original do Projeto) e OEM (modalidade diferenciada de distribuição de produtos na qual eles não são comercializados aos consumidores finais. Ou seja, são vendidos a outras empresas) em um modo de atuação econômico conhecido como CM (Contract Manufacturer).
 Atuando no mercado eletrônico, a Foxconn tornou-se a maior exportadora da China, tendo como principais clientes a Apple e a HP (Hewlett Packard). É uma empresa gigante e deve ser respeitada como tal. Quando a Foxconn chegou ao Brasil, após Terry Gou reunir-se com o presidente Lula, já tinha como meta a implantação de um mega-sítio para operar para diversos clientes com cerca de quinze mil funcionários. Enfim, chegou o momento de colocar a mão no bolso.
Por que Jundiaí?
Jundiaí foi escolhida para operação HP da Foxcon por um motivo determinante, além do incentivo fiscal, sua privilegiada localização, sendo considerada uma bacia logística, tendo em vista que o depósito da HP fica em Louveira. Antes de migrar para a Foxconn, a HP tinha como CM, a americana Solectron, que hoje em dia pertence à gigante de Cingapura, Flextronics, que opera em Sorocaba. No Brasil, a Foxconn também opera em Indaiatuba, Manaus, Sorocaba e Santa Rita do Sapucaí.
Em 2006, o contrato entre HP e Solectron, expirou, e devido ao excelente preço – muito abaixo das empresas americanas -, e à extrema habilidade logística, a tradicional empresa americana fechou contrato com a gigante taiwanesa. Vale lembrar que a HP ganhou força no mercado de fabricação de computadores pessoais, após adquirir a operação e a marca da Compaq em 1996, sendo que a Compaq hoje é a segunda linha da HP.
Anúncio dos investimentos
Em recente viagem à China, a presidenta Dilma Roussef – ainda em território chinês -, anunciou o investimento de R$ 12 bilhões da empresa de Terry Gou em território nacional, porém, não externou sobre o tempo para que este investimento ocorra.
Neste momento, uma verdadeira guerra fiscal iniciou entre diversas cidades do Brasil, onde a prefeitura acaba de divulgar que a empresa chinesa escolheu Jundiaí, mas vale lembrar que o vereador do Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou sua atuação em parceria com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da região, Elizeu da Silva Costa, junto ao governo federal pela escolha da cidade. E a força tarefa deu certo, Jundiaí será a cidade que abrigará a operação da Apple.
Desafio
Jundiaí venceu o desafio, supostamente por ter sua ótima localização e por um bom incentivo fiscal, mas está devendo desde 2006 em uma área – lembrando que após a instalação da Foxconn em Jundiaí diversas outras empresas do ramo eletrônico a escolheram também -, sendo mão-de-obra especializada.   
A prefeitura de Jundiaí não é a responsável em criar universidades e escolas técnicas, mas os deputados eleitos, além do executivo, têm a obrigação de trabalhar juntos às esferas nacionais e estaduais pela implantação das três modalidades possíveis e necessárias, sendo: universidade pública, ETEC (Escola Técnica Estadual) e IFET (Instituto Federal de Ensino Técnico). Não é necessário elucidar sobre os benefícios que uma universidade pública irá trazer para Jundiaí.
Para ser benefício para Jundiaí, a mão-de-obra da nova planta deve ser local e para isto, tem de ser qualificada. Vamos esperar as ações em prol desta área, pois a cidade tem de se preparar para o boom eletrônico que está ocorrendo há cerca de 5 anos e que irá se aprofundar no próximo período.

4 comentários:

  1. Isso será muito bom para aumentar o status de Jundiaí.Já temos grandes empresas de tecnologia, e com a vinda da Apple iremos aumentar nossa credibilidade nesse assunto.Temos que parabenizar o governo federal por esse trabalho e também ao governo municipal que conseguiu oferecer infraestrutura suficiente para tamanho empreendimento.

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  2. Gostei do Texto, bem detalhado! Ficaram duas dúvidas... Pelo que lembro a Foxconn estava negociando com a prefeitura antes mesmo da viagem da Dilma para a China, não? Além disso, pelo que sei, a guerra fiscal depende de cada prefeitura para atrair novos investimentos e não do Governo Federal, neste caso, qual foi a atuaçao do Sindicato e do vereador?

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  3. Amanda,

    Em 2004, quando o Terry Gou reuniu-se com o ex-presidente Lula, a Foxconn já havia se posicionado sobre seus planos no Brasil, que era de um "mega-site" de 15 mil funcionários.
    A oficiliazação dos investimentos veio somente na viagem da presidente Dilma, por isso os trabalhos começaram neste momento. Lógico que pelo fato da Foxconn já estar em Jundiaí há quase 5 anos, a prefeitura levou vantagem.

    Quanto à guerra fiscal, você está certa. Eles ajudaram nas garantias que a Foxconn exigiu na semana passada, conversaram com dois ministérios, o de Indústria e Desenvolvimento e do Trabalho. A prefeitura de Jundiaí só pode garantir melhor valor, o resto é com o governo federal.

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