sexta-feira, 29 de abril de 2011

Entrevista com André Lux

Publico abaixo, a quarta entrevista deste blog. O entrevistado da vez é o jornalista e blogueiro jundiaiense André Lux.
Lux acaba de lançar um jornal, a Folha do Japi, com um viés crítico e diferente dos demais veículos da região.
O nome de André Lux entrou nos principais debates de Jundiaí por entrar em conflito com o atual editor-chefe do JJ (Jornal de Jundiaí), além de vencer – nos tribunais -, um processo que sofreu da prefeitura de Jundiaí. Mais uma boa entrevista de mais uma figura da esquerda local.

Japi pelo prisma da esquerda: Conte um pouco sobre sua história política e profissional.
André Lux: Sou formado em Jornalismo pela PUC (Pontifica Universidade Católica) de Campinas, em 1995. Trabalhei por dois anos na TV Bandeirantes de Campinas, e posteriormente fui convidado para trabalhar em uma empresa de autopeças, como assessor de comunicação e desde então passei a atuar nesta área. Apesar de ser de esquerda desde a primeira eleição de Lula para presidente, em 89 - quando perdeu para Collor, só comecei a atuar realmente nesta área em 2005, quando me filiei ao PT (Partido dos Trabalhadores) e depois quando passei a prestar serviços para a área de assessoria de comunicação do deputado Pedro Bigardi, neste período me transferi para o PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Hoje não estou mais filiado a nenhum partido e nem tenho ligação com qualquer político, pois como editor do Jornal Folha do Japi, entendi que não seria ético manter esses laços partidários.
Japi pelo prisma da esquerda: O que é ser jornalista para você?
André Lux: Jornalismo para mim é uma profissão que deveria ser o quarto poder, ou seja, fiscalizar os outros três poderes da maneira mais objetiva possível. Não imparcial, pois isso não existe, mas deixando claro aos leitores em editoriais qual é a linha ideológica que o veículo defende. Além disso, o jornalista deveria estar sempre do lado dos mais fracos, dos injustiçados, dos pobres e marginalizados pelo sistema capitalista. Infelizmente, hoje em dia são raros os jornalistas e os veículos de comunicação que chegam perto disso. Existem exceções, mas são cada vez mais raras – principalmente entre os mais jovens, que parecem sair da faculdade com uma única ideia na cabeça: ganhar dinheiro e ficar famoso, de preferência trabalhando na famigerada Rede Globo.
Japi pelo prisma da esquerda: Hoje existe um movimento forte na blogosfera encabeçado por jornalistas e ativistas políticos que se denominam “blogueiros progressistas”. Você administra um blog, o http://tudo-em-cima.blogspot.com, que tem um viés político combativo e é tido por muitos como um blog progressista. Você se considera um blogueiro progressista? E o que é ser progressista na blogosfera?
André Lux: Comecei minha atuação na internet em 2005, no auge do factóide conhecido como “Mensalão”, que foi na verdade uma tentativa de golpe da direita e seu braço midiático contra o Lula. Naquela época, muita gente sentiu que era hora de romper a ditadura midiática imposta pela meia dúzia de famílias reacionárias que dominam a comunicação de massas no Brasil. Começou daí a formação de várias frentes de batalha na internet, principalmente no Orkut e nos blogs, contra esses veículos alinhados ao neoliberalismo e ao imperialismo estadunidense.
Para mim, ser progressista significa enfrentar os setores reacionários da sociedade e lutar por um mundo mais justo, com menos desigualdade e que traga progressos que possam ser realmente aproveitados por todos, sem colar em risco o nosso planeta.
Japi pelo prisma da esquerda: Na última terça-feira (18), foi criada a Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular (FrenteCom) na Câmara Federal, que tem como finalidade: lutar pela democratização da comunicação, onde a principal bandeira é a regulamentação da mídia.  Qual é a sua opinião sobre a regulamentação da mídia?   
André Lux: Sou totalmente favorável à regulação da mídia. No Brasil temos casos absurdos de abusos de poder midiático, com reputações de pessoas sendo incineradas em editoriais tendenciosos ou em notícias inventadas a toda hora sem que qualquer punição seja aplicada. Em países do dito “primeiro mundo” muitos jornalistas e vendedores de opiniões estariam na cadeia ou pagando altíssimas multas por metade do que fazem aqui no Brasil. O mais interessante é observar essa imprensa corporativa, que busca o lucro acima de tudo e de todos, gritando que querem aplicar “censura” toda vez que se toca nesse assunto da regulamentação. Mais uma vez, basta analisarmos o que acontece nos países do dito “primeiro mundo” para perceber que lá a regulação existe e é bem rigorosa.
Japi pelo prisma da esquerda: Você é um grande crítico da imprensa jundiaiense. Em sua opinião quais são as principais falhas da imprensa local?
André Lux: Há alguns anos eu cheguei à conclusão que precisava me informar mais e melhor sobre o que acontecia em Jundiaí. Assinei, portanto, um dos três “jornalões” da cidade – o que diziam ser o “menos pior”. Infelizmente, percebi rápido que o jornal apenas trazia notícias e opiniões enviesadas, sempre a favor da direita e contra a esquerda - principalmente sobre a política local. As matérias muitas vezes davam toda a impressão de terem sido enviadas prontas da assessoria de imprensa da Prefeitura do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), de tão “chapa branca”. E os editorais então? Cheguei a ler nove editoriais seguidos que criticavam algum aspecto do governo Lula e um que falava de um assunto genérico. Nenhum editorial sobre Jundiaí. A mesma coisa com as charges publicadas: de dez, nove contra o Lula e uma sobre um assunto genérico. Não que eu seja contra um jornal local criticar o governo federal, porém, é um total absurdo quando este jornal fica apenas malhando o governo federal por estar sob comando de um partido de esquerda, enquanto só traz notícias e opiniões positivas ou neutras sobre o governo municipal que é de direita. Isso é um desrespeito à minha inteligência, fato que me levou a cancelar a assinatura do jornal e buscar formas alternativas de informação.
Japi pelo prisma da esquerda: Como um veículo de imprensa deve se portar quanto ao poder público?
André Lux: Como eu disse, o Jornalismo tem que se portar como um quarto poder, ou seja, tem que fiscalizar os outros poderes da maneira mais isenta e objetiva possível. Não imparcial, porque isso não existe, mas justamente por isso tem que respeitar os princípios básicos do jornalismo, entre eles sempre ouvir os dois lados. Infelizmente, isso não ocorre nem aqui em Jundiaí nem em outros veículos que fazem de tudo para se venderem como “imparciais” enquanto manipulam as notícias em favor dos interesses dos grupos que dominam a política local.
Japi pelo prisma da esquerda: Você acabou de lançar um jornal semanal em Jundiaí, a Folha do Japi. Qual é a principal proposta deste projeto?
A proposta da Folha do Japi é retomar a seriedade do Jornalismo, trazendo matérias que fiscalizem e denunciem o poder público e que levem informações e promovam um debate sobre pessoas, entidades e assuntos que são ignorados pela chamada “grandes mídia” justamente por não se alinharem automaticamente aos dogmas corporativos defendidos por ela e ao alinhamento ideológico à direita. Também buscamos publicar opiniões críticas que divergem das vendidas pela imprensa corporativa como sendo “verdades absolutas”.
Japi pelo prisma da esquerda: Você é um cinéfilo. Qual é sua opinião sobre o atual cenário do cinema nacional?
Gosto muito de cinema. Um dos maiores prazeres que tenho é escrever sobre filmes, principalmente quando é para detonar um filme ruim (risos). O cinema nacional está numa boa fase, conseguindo fazer filmes que atraem o grande público. Acho que o mal do cinema nacional é que, durante um grande período, foi incapaz de se comunicar com o grande público, fixando-se muito em pornôs chanchadas de péssimo gosto e em filmes panfletários ou altamente politizados. Não sou contra o cinema politizado, pelo contrário, mas acho que isso tem que ser feito de uma maneira atraente também para a grande massa, caso contrário vira só papo cabeça para meia dúzia. Acho que desde que a esquerda chegou ao poder com Lula, o cinema passou a ser mais valorizado como produto cultural do país e tivemos bons filmes sendo produzidos com auxílio de recursos governamentais, alguns deles inclusive que falavam sobre os crimes e as torturas cometidas durante a ditadura cívico-militar que começou em 1964 e durou 21 anos.

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